domingo, 11 de agosto de 2013

Famintos e Sedentos


Sempre tive a sensação de ter a alma emprestada. Que fazem parte dela aprendizagem e pensamentos que outros tiveram, e, momentos que outros viveram. Fazendo minha carne o que os outros construíram e expressaram. E é assim como vou construindo minha alma, como uma casa que tem tantos tijolos quanto livros lidos. 



E não tem ninguém que tenha me emprestado mais a sua alma do que (um escritor pouco conhecido no Brasil, infelizmente): Martín Descalzo. E é dele - e meu - o pensamento que me consome agora: como com o passar do tempo, vamos deixando por terra tantos valores... E como mascaramos isso de coisa de gente grande. Pior ainda, mascaramos de maturidade. Usamos a lei de Talião, usamos o "foda-se". E o resultado? Construímos a nossa personalidade e nossa vida tão "adulta" baseada em tratar mal a quem nos trata mal, a ser indiferente com quem "merece" e toda uma lista interminável de atitudes alicerçadas em antivalores. E nos tornamos previsíveis, mesquinhos, fracos, desinteressantes e vazios.



Ja disse tudo isso, Martín Descalzo:



"O que comumente acostumamos a ver como maturidade no homem, é na verdade, resignação. Você vai se adaptando ao modelo imposto pelos outros ao ir renunciando pouco a pouco as ideias e convicções que você mais apreciava na juventude. Você acreditava na vitória da verdade e já não crê mais. Você acreditava no homem, mas já não crê mais nele. Você acreditava no bem e já não crê mais. Você lutava pela justiça e parou de lutar por ela. Você confiava no poder da bondade e da paz mas já não confia.  Se entusiasmava e agora não é mais capaz. 



Para poder navegar melhor entre os perigos e tormentas da vida, você deixou sua embarcação mais leve. Você lançou do barco uma enorme quantidade de bens que não pareciam indispensáveis. Mas esses bens eram justamente seus suprimentos e reservas de água. Agora você navega, sem dúvida alguma, com maior agilidade e menos peso. Mas você morre de fome e de sede".






Aline Prado.


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