quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Embaçado

Queria conseguir organizar meus sentimentos e pensamentos com a mesma habilidade que organizo meu armário. 

Mas a vida é tanto, aqui dentro é tanto, que me perco. 

E preciso do espelho do outro pra me reconhecer. Ou talvez só precisasse olhar pro horizonte e não pra si. Nem pro outro atrás do espelho. 


Mas eu olho. E não sei o que eu vejo.

Aline Prado

Quase um conto moderno

"Você conhece a historia da Phasiniadae? É uma ave. Ela experimenta todo o tempo em um instante e canta uma canção de amor, raiva, medo, alegria e tristeza. Tudo ao mesmo tempo... Tudo combinado... Tudo combinado em um som magnifico. E essa ave quando encontra o amor de sua vida fica feliz e triste. Feliz por ela vê que para ele é o começo. E triste, porque ela sabe que já acabou."

I origins - Do ser de outro planeta. 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Importar e ser importado (tão essencial quanto o tão famoso jargão)

São 3:20 da madrugada. Ainda não consegui esquecer o trecho do livro que li ainda de manhã, nem das lembranças que isso me trouxe.

No livro contava de uma noite de ação de graças que um paciente passava no hospital: Quando ele começou a lembrar do que essa data significava e como sua mãe ia passar a noite sozinha em casa e sem dinheiro pra comprar o jantar, ele começou a chorar baixinho. Mas uma enfermeira que ja estava encerrando o turno, ouviu. Ela enxugou as lágrimas do paciente e disse que ela não queria passar aquela noite sem companhia e trouxe um jantar, suco, sobremesa. E ficou ali do lado durante horas após seu turno, até que o jovem se acalmasse um pouco e adormecesse.

Derramei algumas lágrimas no meio da rua ao ler. Fiquei comovida. Lembrei da vez que vi minha mãe presa entre dois carros e sua vida por um fio. De como fiquei completamente perdida e desesperada, andando de um lado pro outro sem saber o que fazer ou pra onde olhar. Até que uma mulher (seria capaz de descreve-la até hoje) me segurou em um abraço e chorou comigo. E não me largou até minha mãe estar segura em uma ambulância e eu a caminho de casa. 

Chorei. Pra ver se meu choro me lembrava o do outro. Chorei pra lembrar que chorar sozinho doi. Chorei sozinho porque ninguém escutou. 

Ja parei de chorar. E agora estou tentando fazer silêncio: do ego, dos "problemas", das "preocupações" pra ouvir as lágrimas do outro. 

E se for pra chorar, que seja junto.  

segunda-feira, 9 de março de 2015

"Em compressão"

Ta chovendo lá fora. E eu não consigo sair da janela. E as lágrimas vão correndo talvez tão intensas quanto as gotas do temporal. 

Quase todos os dias eu paro e fico aqui pensando um tempo. Entre orações e pensamentos. Tentando achar no horizonte minhas ilusões perdidas. Tentando enxergar ao menos de longe os meus pedaços. 

Tenho saudades daquele tempo que a vida era palpável. Quando eu remediava tristezas e amenizava sofrimentos. E via dai brotar a alegria. 

Tão oposto ao que se vive hoje. Nessa busca eterna e egoísta pela felicidade. Inalcançável. Não sei quando nem como troquei minhas crenças por esse paganismo. 

Sei que hoje a janela vai dormir aberta. E vou fechar os olhos enquanto miro o horizonte. Pra ver se sonho (e ao menos em sonhos) que lá ao longe me reencontro. 


Aline Prado

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Sendo

"Ser é ser percebido" é uma frase clássica da filosofia. E que fez sentido pra mim, muito além do que Berkeley propôs.

Ser é ser percebido, é ser amado, é ser cuidado.  Mas o particípio só existe assim mesmo, participando. Quando há primeiro um movimento meu para perceber o outro, amar, cuidar.

So assim se-re-mos em plenitude. Eu com a minha mania de modificar frases marcantes, diria ao filósofo que na nossa escala de existência, ser de verdade é ser percebido pelo amor que damos.


Aline Prado

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Submerso

Do filme 'Submarine', 2010.


'Tonight I stumbled across an encyclopaedia entry on ultrasound. Ultrasound is a sound 
vibration too high frequency to be audible. It was first developed to locate submerged objects – submarines, depth charges, atlantis and such. 


Some animals, like bats, dolphins and dogs, can hear within the ultrasonic frequency. But no human can. No one can truly  know what anyone thinks or feels. 


What's inside Mum? What's inside Dad? What's inside Jordana? We're all travelling under the radar undetected. And no one can do a thing about it.'



segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Qual é o sentido da vida pra você?

Sentamos num café já familiar. Gabriel com seus penetrantes olhos mel e com o seu habitual comportamento inquieto acende um cigarro. E vai me respondendo tudo rapidamente, sem pensar. Quase que despejando questionamentos que estão alí, sempre presentes apertando no peito.


- "Quem é o Gabriel?"

- "Gabriel é.... (Pensa um pouco e dispara a falar) Tenho 21 anos, estudo gastronomia. Não é o que eu gosto mas é o que eu sei fazer da vida. Na verdade eu sei fazer muita coisa, mas nada que me arrume um emprego. Tem essa parte. Eu não gosto disso (gastronomia). Acho legal, mas não é isso que eu quero pra minha vida."

Ele mexe nos anéis e no cabelo.

- O que mais você me diz sobre o Gabriel?

- Sou uma pessoa meio transgressora. Acho essa coisa de regra muito padronizado. Acho que as pessoas deviam ser livres.

A gente chega a conversar até sobre anarquia, quando o peço pra continuar me falando mais sobre ele.

- Eu sou uma pessoa tranquila, muito tranquila. Gosto de todo mundo, me dou bem com tudo.

(Percebendo a contradição, pergunto) 
- Mas ao mesmo tempo é uma pessoa muito insatisfeita?

- Exatamente! Mas é uma questão mais comigo mesmo. De não ter um objetivo. Ou de não gostar de nada.

- Você não tem objetivos, ou você não tem sonhos?

- Os dois! Como vou ter objetivos se não tenho sonhos?

- Você pode ter objetivos, metas. Como comprar um carro.

- Não, acho isso muito bobo. Sou mais de ser algo. Nao penso em ter 30 anos, um carro, uma casa, uma família. Pra mim tanto faz essas coisas. 

- Mas você sente falta de não ter esse futuro projetado?

- Tenho medo de ficar velho e não ter achado uma finalidade para mim ainda. Pra mim mesmo, quanto pra sociedade.

- Você na sociedade?

- Exatamente. Eu existo, ok. Mas e isso daqui a 100 anos? Eu começo a pensar e isso me leva a coisas muito maiores.

- E você acha que não tem um sonho porque não conseguiu achar um sentido pra sua existência?

- Um sentido pra vida, na verdade. Eu acho tudo muito pouco. A gente vive pouco, tudo acontece muito rápido.

- E qual seria o sentido da vida pra você?

- Sei lá... Amor? Todo mundo vive em função de achar um amor na vida. Todo mundo vive a vida tentando achar alguém que vai fazê-lo se sentir bem. Você é assim? Por mais que você passe a vida tentando ter um bom emprego, ganhar dinheiro... Você ainda vai querer ter alguém. Por mais que seja inconsciente isso. Você pode chegar ao final da vida e conseguir tudo, mas e se você não teve ninguém pra dividir isso? Então no final das coisas o sentido da vida pode ser amor.

- Você acha que amor só neste âmbito?

- Não parei pra pensar nisso ainda, mas eu pelo menos, por mais que eu tenha tudo, eu não me sinto completo se eu não tiver alguém, amando alguém. Eu preciso de emoções fortes e intensas o tempo todo. E a mais intensa seria o amor. De estar completamente apaixonado. Não viver em função dela, mas fazer da pessoa realmente parte da sua vida. Mais ou menos isso.

- E isso completaria sua vida?

- Eu me sinto... Que não preciso de tantas coisas. É, completo mesmo. Pro dia a dia, acho que essa é a finalidade da vida. Você entendeu o que eu falei?


Aline Prado